Em falta: Semancol



Nunca tinha visto aquela senhora. Mas ela se aproximou de forma inconveniente, na hora que eu estava dando atenção a outras pessoas. Até aí, tudo bem. Até a mulher hemorrágica e a siro-fenícia foram inconvenientes a Jesus — e foram até elogiadas por Ele por tal fé. Às vezes realmente não dá para esperar.

Mas nenhuma das duas ficou enrolando, nem tomou mais tempo d’Ele do que precisava. A primeira, nem abriu a boca—apenas o tocou e foi curada. A segunda foi mais insistente, mas quando Ele finalmente a deu atenção, ela foi direto ao assunto. Vapt-vupt. Milagre concedido.
Mas aquela senhora não tinha tanta objetividade, muito menos brevidade. Ela queria atenção na hora, já. “Pois não, senhora?” – falei educadamente, enquanto sinalizava uma desculpa para as pessoas que eu estava atendendo. Àquela altura, eu pensava que ela estava em desespero e carecia de atenção urgente. Entendo. Não quis ignorá-la.
Porém, não demorou muito para entender o verdadeiro problema. Ela conseguiu em poucos minutos pintar a figura mais horrível de seu marido para mim, sem ponto nem vírgula, e em pior tom. Já sobre si mesma, não poupou elogios. “Eu sou uma pessoa muito correta…” “Eu gosto muito de ajudar as pessoas…” Eu levo as coisas de Deus muito a sério…” — sempre entremeados a críticas ao seu marido.
Falei com Ouvi a senhora por uns sete minutos. E não aguentei. Eram muitas voltas para falar a mesma coisa, e até agora não sei o que ela realmente queria de mim, além de falar mal do marido e bem de si mesma. Mas a dor veio mesmo quando ela disse que já estava casada há 24 anos. Na hora, orei pelo coitado no meu coração. Paciência de Jó. Foi o que pedi a Deus por ele.
Sei que ele provavelmente não é nenhum santo. Mas o meu ponto principal aqui é como algumas pessoas tem zero de Semancol — o famoso senso de autocrítica, de se enxergar, de ver os próprios defeitos. Jesus já havia receitado boas doses:
Por que é que você vê o cisco que está no olho do seu irmão e não repara na trave que está no seu próprio? Mateus 7.3
Ocupar-se em criticar quem você não pode mudar é perda de tempo. Sua melhor opção é usar essa energia para melhorar a si mesmo—a única pessoa que você realmente pode mudar. E que talvez esteja precisando mais do que qualquer outra ao seu redor.
Foi o que tentei falar para aquela senhora.
Mas duvido que ela me ouviu.

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